A ação se repete há oito meses e tem feito a diferença no trabalho de conservação da biodiversidade da região. Amparados pelo Programa de Voluntariado em Unidades de Conservação do Paraná (VOU) do Instituto Água e Terra (IAT), os voluntários já conseguiram remover cerca de mil hectares da espécie exótica de uma área total de 3,2 mil hectares. A meta é acabar com a presença de pinus no local até o fim deste ano.
Essa recuperação ambiental ganha respaldo na ciência. De acordo com o Programa do Estado do Paraná para Espécies Exóticas Invasoras, desenvolvido pelo IAT, essa invasão biológica é considerada a segunda maior causa de perda de biodiversidade no mundo – a primeira quando se considera apenas ilhas e Unidades de Conservação.
“É lindo ver que vamos tirando o pinus para retornar a mata nativa, os animais silvestres voltarem ao seu habitat natural”, destacou Juarez Bascoski, chefe do IAT na Unidade de Conservação. “Estava de folga, poderia ficar em casa, mas decidi ajudar. Acredito que a natureza é de todos, é responsabilidade, também é de todos nós”, completou o voluntário Cleiton Daniel Carvalho.
Promotor de Justiça e um dos líderes dos voluntários, Fábio Grade reforçou que a maior motivação para o grupo é conservar a região para as futuras gerações. “Temos médico, porteiro, engenheiro, pessoas das mais diversas profissões que optam por estar aqui nos fins de semana. Juntamos recursos próprios e contamos com o apoio da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e do Instituto Água e Terra para conseguirmos manter a ação”, disse.
Gerente de Biodiversidade do IAT, Patrícia Calderari explicou que uma espécie é considerada exótica ou invasora quando se estabelece fora de sua área de distribuição natural e, sem a intervenção humana, tem a capacidade de sobreviver e proliferar, avançando sobre espécies locais e ameaçando habitats naturais, o que causa impacto ambiental negativo.
Esse é o caso do pinus. Espécie de pinheiro, originário da América do Norte, foi inserido no Brasil há mais de um século para fins ornamentais. Porém, desde 1960, é cultivado em larga escala comercial como matéria-prima em indústrias de madeira, laminados, resina, celulose e papel, especialmente nas regiões Sul e Sudeste do País.
A dificuldade do controle do pinus, ressaltou a gerente, se dá pela anatomia das sementes. Elas são leves e possuem um formato alado, que favorece a aerodinâmica para voarem por até oito quilômetros de distância da árvore-mãe.
“O pinus tem a sua importância econômica, mas a dispersão descontrolada das sementes é prejudicial. O resíduo florestal do pinus, que parece um capim, cobre o chão e essa cobertura do solo impede que a vegetação nativa dos campos prospere. Essa vegetação vai morrendo e perdendo habitat”, afirmou.
O diretor de Patrimônio Natural do IAT, Rafael Andreguetto, destacou que o Programa de Voluntariado em Unidades de Conservação do Paraná é o único do Brasil a oferecer seguro individual para o voluntário cadastrado, já que a atividade é considerada de risco moderado. “Com esse voluntariado a gente consegue aproximar e cumprir com as funções da conservação ambiental, que é uma responsabilidade de toda sociedade, não apenas do Poder Público e da iniciativa privada”, afirmou.
Os interessados em colaborar com as ações de limpeza das áreas verdes podem se cadastrar no site do IAT para atuar nas mais diversas modalidades, desde o atendimento a turistas, até atividades administrativas e práticas.
O VOU possibilita o ingresso de pessoas que colaboram em atividades de manejo e gestão para proteger as Unidades de Conservação do Paraná. Ao atuar como voluntário o indivíduo ou grupo tornam-se agentes transformadores, doando tempo e conhecimento em benefício da sociedade, do bem público e em prol da conservação ambiental.
“Temos total interesse que esse grupo de voluntariado continue, para resgatarmos as características naturais do Parque de Vila Velha”, afirmou Leandro Ribas, gestor da concessionária Soul Parques, empresa responsável por explorar comercialmente a Unidade de Conservação após processo de licitação organizado pelo Governo do Estado – o contrato de concessão foi assinado em fevereiro de 2020.
Tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Estadual, o Parque Estadual Vila Velha tem 3,2 mil hectares e completa 70 anos em 2023. Ele foi criado pela Lei Estadual nº 1.292, de 12 de outubro de 1953, e pelo Decreto Estadual nº 5.767, de 05 de junho de 2002. Vila Velha é o primeiro parque concedido pelo Governo do Paraná à gestão da iniciativa privada.
Fonte: AEN